Poucas coisas a mim me provocam maior nojo do que assistir a um novo idiota repetir coisas como estas: “É muito fácil ter cultura com dinheiro”, “Os pobres são ignorantes porque pobres”, “Não se pode conceber que alguém que ganha um salário mínimo tenha acesso a cultura”. Não bastasse a absurdidade balofa intrínseca à patacoada, é elevada a níveis de demência quando a vemos dita num país cujo cume do Gênio é Machado de Assis: preto no tempo da escravidão, filho de lavadeira no tempo da nobreza, tempo cujo preconceito com os pobres seria hoje chamado de fascismo; pobre numa sociedade constituída de classes sociais praticamente imutáveis. Nada o impediu atingir uma erudição imensa, aprender, sem nunca ter tido ninguém para lhe ensinar, quatro línguas estrangeiras (ele foi, aliás, tradutor de Dante); ascender econômica e socialmente pelas armas do espírito; fundar a Academia Brasileira de Letras; compensar, para a cultura brasileira, 200 anos de atraso em vinte e conseguir – lembremos que esta é uma proeza não realizada nem por um Camões ou um Pessoa – ver a obra reconhecida ainda em vida.
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