26 junho 2006

Direitona, grande capital, Primeira Leitura etc

É coisa engraçadíssima: a direta é o grande capital, mas o Instituto Liberal de São Paulo fechou por falta de verbas e o do Rio de Janeiro funciona em condições precárias, enquanto o MST bóia, inerte, num mar morto de dinheiro infindável. A direita é o grande capital, mas Olavo de Carvalho, para ter os meios de falar contra os esquerdistas a uns americanos, precisa pedir dinheiro aos leitores. A direita é o grande capital, mas a única revista com um mínimo viés direitista em anos, Primeira Leitura, fechou as portas por falta de anunciantes. Deve ser algo assim como ar, esse grande capital, que, embora ninguém veja ou note a existência, está presente em todos os lugares.

2 comentários:

Renato C. Drumond disse...

Sua leitura está bastante equivocada.

Quando se fala do Grande Capital, isso significa que este defende seus interesses independente dos efeitos que essa defesa terá no resto da sociedade. Por exemplo, a ajuda governamental às empresas, ou medidas protecionistas. Seu único interesse é o lucro máximo, e para isso ele brinca com as regras do jogo a seu bel prazer.

De maneira distinta, o liberalismo defende o lucro econômico como forma de se gerar maior bem estar social, mas a defesa do lucro é acompanhada pela defesa da concorrência.

Marx observou, com muita propriedade, que os capitalistas são a favor do livre comércio apenas quando isso é do interesse deles, e defendem protecionismo e ajuda do governo quando necessário. O que ele não foi capaz de verificar é que os interesses dos vários setores da economia são contraditórios, ou seja, não há uma unidade na ação capitalista.

O economista Mancur Olson fez um estudo avançado sobre em que medida um determinado setor da economia se organiza de tal forma a defender seus interesses. Basicamente, é preciso que seja um setor com poucos agentes, pois em concorrência perfeita o racional é buscar o lucro individual, dificultando a existência de pressão política.

Em relação à liberdade de imprensa, a leitura que você faz é mais equivocada ainda. Não existe essa história de liberdade "de fato". A verdadeira liberdade é a liberdade formal. Essa é a base do liberalismo. Liberdade de fato é defendida por correntes políticas que acreditam existir uma realidade mais verdadeira que a realidade aparente, e que as pessoas só são realmente livres quando se encontrarem naquela situação considerada ideal. A revista de maior circulação no país, a Veja, é marcadamente oposicionista, e a Band também apresenta um jornalismo bastante crítico. Incluse esses dois meios lideraram a campanha contra o desarmamento.

Aliás, é curiosa que sua leitura não perceba que Marx, muitas das vezes equivocado, estava certo nesse quesito: o capital se importa apenas com o lucro. Portanto, não interessa para ele a defesa ideológica de um sistema de livre mercado, pois esse é uma idealização dos chamados "economistas burgueses". O fato da China ser atualmente o paraíso capitalista confirma bastante isso. O capitalismo, traduzido na ação dos agentes capitalistas, é amoral. Importa-se apenas com a busca do lucro máximo, e nisso aloca eficientemente os recursos. Se essa alocação é justa, é uma questão distinta.

Em relação à falência da Primeira Leitura, isso é resultado do mercado ora bolas. Só falta daqui a pouco defenderem quotas para o jornalismo de direita no Brasil. Impressiona que a dita direita, tão crítica de salvaguardas legais que a esquerda defende em nome da diversidade, se ache injustiçada por estar à mercê das flutuações de mercado.

No mais, parece que você sofre de um solipsismo perigoso: só você vê a realidade, só a sua leitura é a certa. Existe a discordância honesta, e só podemos alcançar alguma melhora no nosso conhecimento se supusermos, em algum momento, que aquilo que pensamos ser verdadeiro e o que é realmente verdadeiro podem ser distintos.

Renato C. Drumond disse...

Liberdade de expressão significa que os indivíduos também são livres para criticarem uns aos outros. Eu, por exemplo, não gosto do Olavo de Carvalho, e tenho o direito de não gostar dele(ou será que não tenho?)e, por mim, ele não receberia nenhum tostão para alimentar os gostos golpistas dele. Mas veja bem, os indivíduos são livres para fazerem doações para ele e alimentar o projeto insano. Como isso não pode representar liberdade de expressão?

Óbvio que o uso da máquina pública para favorecer órgãos de imprensa amigos é lamentável, mas isso é distinto de afirmar que não existe liberdade de expressão, pois mesmo o alcance desse apoio governamental nunca poderá ultrapassar o fato de que os indivíduos são livres para se manifestarem contra o governo.

Primeira Leitura antes era uma revista mais plural. Desde que Reinaldo Azevedo assumiu, ela adotou um tom mais incisivo e, por isso mesmo, simplista. É natural que esse tipo de ação afaste parte dos leitores. Foi uma estratégia errada do Reinaldo, querer marcar distinção num momento em que o mais importante era formar uma frente ampla contra Lula. Se ele escolheu esse caminho, azar o dele.