Claro que a dor dos parentes congelada nas estátuas de bronze e mármore sobre criptas de cem, cento e cinquenta anos de idade, torna o passeio abalador no bom sentido, sem falar no inusitado silêncio em um bairro movimentado de São Paulo, na ausência de semoventes fora eu, minha filha e uns passarinhos que pareciam cantar repetidamente "es-que-le-to" (que espécie será?), nos ciprestes romanos que conferem um quê de Porta do Hades ao local, no cheiro de cravo de defunto, na vegetação rasteira que, com paciência, vai tomando conta dos túmulos menos visitados, e sem falar em toda aquela pedra, o material "eterno" escolhido pelas efemérides humanas que têm esperança de também ser eternas...
É mais comovente essa vã esperança traduzida nos túmulos e nas ebúrneas figuras desesperadas do que a própria dor sentida pelos entes que ficaram ou pelo destino dos que partiram, já que, afinal, é o destino de tudo o que vive.
Humano, demasiado humano. Passei a achar cemitérios desse tipo, tradicionais, mais bonitos e inspiradores quando neles vi apenas o seu lado humano - que é o único que há. Nada disso se sente no Campo da Esperança, esta porcaria espartana daqui de Brasília, onde só há cerrado, cruzes toscas, fotos esmaecidas e velas, os três últimos o que de pior pode haver em um cemitério - depois do corpo de um conhecido, claro!
Vivamos - e vivamos bem -, nós que estamos vivos...
Um comentário:
No cemitério da Consolação é comum encontrar semoventes da TFP e dos Arautos do Evangelho, indo levar flores a Dr. Plínio ou D. Lucília
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