29 janeiro 2007

Entrevista imaginária: Mino Carta

Nota: Nos anos 60, Nelson Rodrigues criou a “entrevista imaginária”. Ele explica: “Ah, como é falsa a entrevista verdadeira! Não sei se me entendem. Eis o que eu queria dizer: - trabalho em jornal desde os 13 anos e tenho 55. Façam as contas. São 42 anos. (...) E, depois de 42 anos de vida jornalística, posso repetir: - nada mais cínico, nada mais apócrifo do que a entrevista verdadeira. (...) O entrevistado é sempre o mesmo, variando apenas o terno e o feitio do nariz. No mais, há uma semelhança espantosa. Nem importa o assunto. (...) O que vale é o cinismo gigantesco. O sujeito não diz uma palavra do que pensa, ou sente. (...) No fim de alguns anos, eis a minha certeza definitiva, inapelável: - ninguém devia ser entrevistado, nem os santos. Até que, um dia, na crônica, ocorreu-me a idéia das “entrevistas imaginárias”. Aí está uma maneira de arrancar do entrevistado as verdades que ele não diria ao padre, ao psicanalista, nem ao médium, depois de morto.” Pensando nas verdades que Mino Carta não diria nem ao médium, depois de morto, resolvi tomar emprestada ao velho esteta a instituição da entrevista imaginária, bem como o terreno baldio, as personagens, a cabra e o estilo.

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